Quando o Quadro na Parede Virou Estratégia: O Primeiro Passo da Engenharia de Processos nas Obras – 1991 - Plaenge
- Rogério Cardoso
- 8 de jun.
- 3 min de leitura
1 - Do Papel à Parede: A Primeira Linha que Organizou a Obra
Em 1991, na obra do condomínio Aeroporto II da Plaenge, com quatro torres de apartamentos de 60 m² em Londrina, um gesto simples mudou o jeito de pensar produção: pendurar um quadro na parede com a linha de balanço desenhada à mão. Até então, cronogramas eram documentos internos, vistos só por engenheiros.

Mas ao torná-lo visível para todos — mestres, encarregados, pedreiros, serventes — o quadro trouxe um novo ritmo à obra. Cada linha contava uma história: o que já foi feito, o que está atrasado, o que viria a seguir. A parede virou espelho da produção.
Nascia ali a gestão visual, e com ela um compromisso coletivo com o avanço. Mais que um cronograma, o quadro virou uma promessa diária de foco e clareza. A obra começou, ali, a se organizar com propósito.
2. O Desenho que Ensinava Sem Falar: Comunicação Visual na Prática
O quadro falava por si. Bastava um olhar para entender: cada trilha com sua cor, tempo e sequência. Mestres e encarregados passaram a enxergar o ritmo da obra sem abrir cadernos ou esperar reuniões.
Erros e acertos saltavam aos olhos. Atrasos que antes se perdiam em desculpas, agora estavam evidentes. Isso deu autonomia aos líderes de frente para agir com rapidez, sem depender de ordens formais.
A obra ficou mais viva, mais consciente. A equipe se sentia parte de um plano real. A transparência gerava confiança. E a confiança, ação coordenada. O quadro virou bússola. Mostrava o quê fazer — e por quê.
3. A Reação do Campo: Resistência, Curiosidade e Adesão
No início, houve estranhamento. Alguns duvidaram: “Isso aí funciona mesmo?”. Outros achavam que era invenção de engenheiro. Mas a curiosidade venceu.
Com os primeiros resultados — menos retrabalho, menos espera, mais previsibilidade — os líderes de frente começaram a usar o quadro para orientar suas equipes. Ele virou ponto de encontro nas manhãs.
Logo, o canteiro lia a linha como se fosse um mapa. A resistência virou orgulho. Era comum ouvir: “Estamos à frente da linha” ou “Precisamos recuperar tempo aqui”. A ferramenta virou hábito. A cultura começou a mudar antes mesmo dos processos.
4. Mais que Cronograma: O Nascimento da Engenharia de Processos
O quadro foi só o começo. Logo ficou claro: a linha de balanço não era só um jeito novo de apresentar o cronograma — era uma nova forma de pensar a obra. Surgiram ideias de padronizar sequências, calcular tempos de ciclo e planejar ritmos.
A engenharia passou a antecipar soluções. A obra virou sistema. E como todo sistema, passou a exigir processos definidos, integrados e mensuráveis.
Assim nasceu a engenharia de processos — não de livros, mas da prática do dia a dia. A parede ensinou que planejar é possível, que eficiência não é acaso, é método. Um pequeno passo que abriu caminho para a excelência.
E o pesquisador finlandês Lauri Koskela em 1992, com o Relatório Técnico nº. 72 – Application of the New Production Philosophy to Construction,publicado pelo CIFE – Center for Integrated Facility Engineering, ligado à Universidade de Stanford, EUA. Neste relatório Koskela desafia os profissionais de construção a quebrar seus paradigmas de gestão ao adaptar as técnicas e ferramentas desenvolvidas com sucesso no Sistema Toyota de Produção (Lean Production), lançando assim as bases dessa nova filosofia por meio de adaptação dos conceitos de fluxo e geração de valor presentes no pensamento enxuto (Lean Thinking) à construção civil, a qual foi chamada de Lean Construction.
Reflexão Final
Na simplicidade de um quadro na parede, nasceu uma nova forma de conduzir obras. A mudança não veio com grandes investimentos, mas com a coragem de enxergar diferente.
Quando o planejamento se torna visível, o compromisso se espalha. A cultura evolui. E a produtividade deixa de ser sorte para se tornar conquista. O futuro da construção começa com decisões simples — mas bem executadas. E a Plaenge começou a implementar processos de gestão em suas obras, conforme texto, antes mesmo do nascimento da “Lean Construction” em 1992.
Rogerio Cardoso
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