Linha de Balanço em 1991 - O Começo de uma Nova Mentalidade nas Obras da Plaenge
- Rogério Cardoso
- há 3 dias
- 3 min de leitura
1. Um Curso, Uma Virada: O Encontro com a Linha de Balanço
Era o início da década de 1990. A Plaenge já se destacava no mercado de incorporação e construção civil, mas, como era comum na época, o planejamento das obras ainda se baseava, em grande parte, na experiência prática dos engenheiros e na intuição dos mestres de obra.
Foi nesse contexto que participei de um curso em São Paulo, ministrado pelo engenheiro Newton Vargas. O tema era instigante: Linha de Balanço — uma ferramenta visual de planejamento sequencial, desenvolvida originalmente na indústria ferroviária, mas com grande potencial para a construção civil. A proposta era clara: permitir a visualização do ritmo da obra, prever interferências entre atividades, evitar ociosidades e garantir fluidez no canteiro.

Foto – Cronograma em Barras e Gráfico em Linha de Balanço – 1991
A simplicidade e o impacto do conceito me marcaram profundamente. Era possível enxergar a obra como um sistema dinâmico e coordenado, algo até então inimaginável nos cronogramas tradicionais.
Pouco depois, tive a oportunidade de aplicar esse conhecimento na obra do Condomínio Aeroporto II, (foto acima) em Londrina — um conjunto com quatro torres de quatro andares cada. Ali tirei a foto que acompanha este post. A repetição dos pavimentos e das etapas construtivas oferecia um terreno fértil para aplicar a lógica da produção em fluxo contínuo.
Não permaneci até o fim dessa obra, pois fui transferido para uma construção industrial no Rio de Janeiro, mas aquela experiência foi decisiva. Ela me mostrou que era possível transformar o canteiro em um organismo vivo, regido por ritmo, lógica e previsibilidade, e não apenas por esforço e improviso.
Mais do que uma técnica, aquele curso despertou em mim uma nova forma de pensar a gestão das obras — menos reativa, mais estratégica.
2. Na Prática: Condomínio Aeroporto II, Uma Nova Forma de Construir
A aplicação da Linha de Balanço no Condomínio Aeroporto II, em Londrina, foi meu primeiro teste real. Eu era o engenheiro residente e encontrei ali o cenário ideal para colocar em prática o que havia aprendido: quatro torres, quatro andares cada, com etapas construtivas repetitivas e previsíveis.
Montamos o cronograma com base em sequências lógicas de execução. A Linha de Balanço nos permitiu enxergar o ritmo da obra e organizar a entrada das equipes por tipo de serviço. Estabelecemos, mesmo que de forma empírica, um “takt time” — uma cadência produtiva que evitava ociosidade e conflitos entre frentes de trabalho.
Com isso, a comunicação no canteiro melhorou, os prazos começaram a ser respeitados e os retrabalhos caíram. Mestres e encarregados, antes resistentes, passaram a usar o gráfico como referência.
Mesmo saindo antes da entrega final, vi ali o divisor de águas: a obra deixou de ser uma sequência de reações e passou a ser uma operação coordenada.
3. Da Intuição à Gestão por Processos: O Início de uma Nova Cultura
A experiência no Condomínio Aeroporto II mostrou que a Linha de Balanço era muito mais que uma ferramenta de planejamento. Ela revelava gargalos, permitia antecipar conflitos e transformava a obra em um sistema organizado por ritmo e lógica. A intuição deu espaço à análise, e os resultados apareceram: menos desperdício, mais produtividade e melhor ambiente no canteiro.
Foi o primeiro passo rumo a uma nova cultura de gestão. Até então, confiávamos na experiência e na habilidade dos engenheiros em apagar incêndios. Mas a aplicação dessa metodologia mostrava que era possível construir com método, previsibilidade e aprendizado contínuo.
Quando voltei para Londrina em 2004, reencontrei uma empresa mais madura, e aquele conceito foi ganhando força e profundidade, abrindo espaço para modelos mais robustos, como o Lean Construction.
Mas tudo começou ali, em 1991 — com uma linha traçada no papel, um cronograma diferente e a coragem de desafiar o jeito tradicional de construir.
Rogerio Cardoso
Comments