Antes do Lean: Como Começamos a Construir com Processo, Método e Visão - Plaenge
- Rogério Cardoso
- 8 de jun.
- 3 min de leitura
Muito antes do termo “Lean Construction” ganhar espaço no Brasil, algo silencioso já começava a mudar nos canteiros de obras: o desejo por ordem, ritmo e clareza. Sem nomes técnicos, mas com intenção prática, nascia ali uma engenharia de processos que se apoiava no que mais tínhamos à disposição — observação, tentativa e humildade para aprender com a rotina da construção. Eis como tudo começou.

1. Quando o Instinto Pedia Ordem: A Busca Natural por um Caminho Mais Claro
A obra mostrava seus limites. Por mais que a equipe trabalhasse duro, a sensação de esforço sem avanço real era frequente. Era como se estivéssemos andando em círculos. A primeira reação não foi buscar uma teoria, mas tentar organizar o dia seguinte.
Começamos com listas, quadros na parede, cronogramas visíveis a todos. Aos poucos, a produção começou a conversar com a equipe. E percebemos que o simples gesto de “mostrar o que vem depois” já reduzia dúvidas, aumentava o engajamento e evitava retrabalho. A intuição virou método. O improviso deu lugar à preparação.
2. O Primeiro Ritmo: Como a Sequência de Atividades Virou Música no Canteiro
Descobrimos que mais importante do que correr, era manter o ritmo. Quando organizamos as frentes de trabalho em uma sequência visual e lógica, surgiu o primeiro conceito de fluxo. Uma tarefa deixava o ambiente pronto para a próxima. A equipe passou a se orientar por cadência — não por pressão.
Um ritmo que evitava interrupções, reduzia desperdícios e criava previsibilidade. O canteiro começou a fluir como uma linha de produção adaptada à realidade da construção. Era o início de uma consciência nova: entregar com constância era mais valioso do que entregar com velocidade.
3. Padronizar Não Era Engessar, Era Liberar o Talento das Equipes
Cada mestre de obra tinha seu jeito. Mas a diversidade de métodos trazia mais ruído do que resultado. Decidimos testar a padronização. Criamos procedimentos simples para as etapas críticas. Documentamos boas práticas e passamos a replicar o que funcionava. Isso não limitou ninguém.
Pelo contrário, liberou energia da equipe para focar no que realmente importa: resolver problemas reais. O que era repetitivo virou rotina. O que era variável demais ganhou estabilidade. E o ganho foi nítido: produtividade crescente, menos retrabalho e mais qualidade percebida — no papel, na obra e no cliente.
4. O Valor do Olhar de Longo Prazo: Visão que Vai Além do Cronograma
Na época, não usávamos termos como KPI, VSM ou dashboard. Mas já tínhamos uma visão clara: cada obra era uma oportunidade de melhorar o sistema, não apenas de cumprir contrato. A meta era evoluir — pessoas, processos e cultura. Pensávamos no próximo canteiro, no próximo ciclo, nos próximos líderes.
O planejamento deixava de ser apenas técnico e se tornava estratégico. Criamos rituais de aprendizado, aprendemos com nossos próprios erros e começamos a construir, junto com os prédios, um modelo de pensar. A gestão por processos nascia ali: silenciosa, firme e com raízes profundas.
Reflexão Final
Antes de qualquer sigla ou metodologia virar tendência, a vontade de melhorar já era real. A construção civil sempre ensinou que método não é frescura — é respeito: ao tempo, à equipe e ao cliente. O Lean chegou depois. Mas a mentalidade já existia. E foi ela que pavimentou o caminho.
Rogerio Cardoso
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